Madrugadas
Nos momentos mais solitários e interessantes da vida, me vi obrigado a me entender com as madrugadas. Apenas um insone tem real
noção do que é a eternidade.
Os dias, por mais
monótonos que sejam, sempre tem algo que os diferenciem. Pode ser
uma nuvem a mais no céu, um calor despropositado em pleno junho ou
um carro que bate num hidrante e espalha água pela vizinhança, mas
alguma coisa sempre distingue um dia do outro.
As madrugadas, não.
A temperatura, por mais
que varie, nunca vai ser tão influente como o clima que só as
madrugadas sabem ter. As horas – que na madrugada são
consideravelmetne mais longas – passam com um ritmo de pêndulo em
slow motion. O tempo vai e volta. Quanto maior a indisposição para
o sono, mais lenta a noite.
Mais o corpo se inquieta
querendo correr. Se a cabeça se engana e pensa que pode dormir, os
joelhos resolvem pedalar e o oásis de sono chegando vai embora.
Um céu nublado não
deixa a madrugada mais escura. No máximo, colore o teto do mundo de
cinza.
Setenta e nove por cento
da escrita humana foi desenvolvida durante a madrugada.
Não é por saudade da
mãe que os bebês choram à noite. É por falta de saber lidar com a
madrugada. (No útero é sempre noite, mas o bebê não consegue
lidar com o fato de que a madrugada acaba. No fundo, ele sabe que o
correto seria não acabar).
Crianças cuja concepção
ocorreu de madrugada tem mais caráter.
Quem nunca sofreu de
insônia prefere cachorros. Quem tem gato, tem madrugada na vida. O
gato é a madrugada em forma de bicho.
Numa madrugada produtiva,
um ser humano é incapaz de diferenciar se está em 2010 ou em 1958.
As dores de crescimento
acontecem de madrugada. As lágrimas por amores que se vão. O gozo
pelo amor que fica. O sonho do que ainda está para voltar.
O dia é para o trabalho.
A madrugada é para a filosofia. Deus ajuda quem vive a madruga.
O dia é coletivo. A
noite é para o casal. A madrugada, por sua vez, é uma experiência absolutamente solitária.
Os dias passam rápido,
as madrugadas não passam jamais.
A manhã, quando chega, é
a tristeza do insone. É como um maratonista que corre na direção
oposta da linha de chegada.
A luz do sol que me
perdoe, mas a madrugada é essencial.
E, como diria o Sinatra,
In the wee small hours
of the morning
Is the time you miss
her most of all.
Bom te ler de novo.
ResponderExcluirSinto falta dos comentários abertos.
De uma conhecida antiga.. dos tempos das garotas que dizem ni...
Bons tempos.. mas, esses são melhores!
Beijo
Fazia tempo que eu não lia nada de você, nem tão bom!
ResponderExcluirParabens!
Loy
tbm fazia tempão que não visitava teu super blog. E esse texto? Ótimo!
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