X-Paraíso
Recém-saído da faculdade, estou
estudando para um concurso público. É muito complicado decidir o
que fazer pelo resto da vida, e trabalhar para o governo pode me
colocar na confortável posição de receber ordens de terceiros o
resto da vida.
Isso e mais um bom salário no final do
mês pode ser o paraíso. Ou, pelo menos, um o purgatório bem
confortável.
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Minha cidade natal tem poucos atrativos
turísticos, e toda foto de divulgação mostra a mesma igreja e
praça.
É uma pena que se desperdice a
verdadeira vocação patobranquense para o turismo: o X-Polenta.
Trata-se de uma gambiarra culinária
composta por duas fatias grossas de polenta frita, muito queijo,
calabresa, bacon, hambúrguer, frango, tomate e rúcula. Isso tudo
numa porção do tamanho de um prato.
É um paraíso muito mais acessível do
que passar num concurso público.
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Morando na capital do estado, os
concursos por aqui costumam ser muito concorridos. Muito mais
candidatos por vaga do que, por exemplo, um concurso numa cidade do
interior.
Surgiu um concurso público para uma
cidade bem próxima da minha, onde eu poderia ter um bom salário e
um acesso facilitado a quantos X-Polenta eu quisesse consumir.
Não me inscrevi.
Críticas à parte, consigo entender os
motivos de tantos médicos recém-formados preferirem ganhar menos
dinheiro e trabalhar em cidades saturadas de profissionais do que
irem a uma cidade pequena e virarem semideuses para a população
local.
Minha cidade natal nem é tão pequena,
mas não tem cinema. Não tem um teatro que receba peças com
frequência. Raramente tem exposições de arte.
As três opções de lazer preferidas
da juventude local são: beber cerveja e ouvir sertanejo no posto de
gasolina, fumar maconha em terrenos baldios e comer o X-Polenta.
Muitas vezes, os três na mesma noite.
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Os médicos que não vão para o
interior não são o problema - são o sintoma.
Se as cidades pequenas não tem opções
de lazer suficientes, os jovens não são estimulados a ficar. Os que
tem a chance, saem. Os que não tem, enchem a cara todo dia para
fugir da maneira que podem.
A falta de lazer acaba virando um
problema de saúde pública.
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Vejo o problema, mas não vejo uma
solução fácil.
Só posso sugerir, para tornar as
cidades do interior mais convidativas, que seja obrigatória a
implantação de uma lanchonete que sirva X-Pòlenta em cada cidade
brasileira com menos de 50 mil habitantes.
Claro, isso pode não resolver o
problema dos médicos. Provavelmente precisaríamos de muito mais
cardiologistas, a longo prazo.
Mas esses a gente traz de Cuba. O
X-Polenta é uma commodity desejadíssima por lá.

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