O machismo da Lulu
Aconteceu com um amigo de um amigo meu:
Ele namorava há quatro meses com uma moça. As coisas andavam rápido, a namorada praticamente acampada na casa dele, o maior amor.
Até que um dia, enquanto ele dormia, ela começou a passar a mão no seu pênis. Ele resmungava e continuava dormindo, ela avançava mais um pouco. Ele acordou com um boquete dela. Disse que estava cansado e não queria. Ela, com o orgulho ferido, entrou em parafuso.
Agarrou o saco dele e torceu com força. Ele gritou. Ela, ofendidíssima, não parou. Ele gritou "Sua louca!", ela deu um soco na cara dele. Saiu chorando do apartamento pra nunca mais voltar.
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A nossa sociedade, machista por excelência, criou as regras: a mulher deve ser pudica e fingir que não trepa, o homem precisa ser louco por sexo e querer xoxota o tempo todo.
Duas mentiras violentas. As mulheres pagam uma conta muito mais alta, com a parte de serem estupradas e tudo mais. Não preciso nem ir fundo nisso. É mais difícil ser mulher, ponto final.
Mas isso não significa que os homens também não paguem um preço por viver numa sociedade machista. Quando o sistema é vil, o algoz também pode ser vítima.
A história do começo do texto foi contada pra mim por um rapaz segurando as lágrimas, depois de beber várias cervejas pra tomar coragem e arriscar ser ridicularizado. A ex-namorada do meu amigo era extremamente machista (além de completamente maluca, of course).
Foi ensinada que se um homem não quer sexo com ela, é ela que está com um problema. Meu amigo também foi vítima do machismo, ao ser visto como um ser que devia morrer de tesão o tempo todo, sob o risco de não ser "homem de verdade".
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Por isso, quando aparece um aplicativo como o Lulu, com mulheres dando notas e avaliando os homens, duas coisas me passam pela cabeça:
Primeira: grande coisa. É moda de internet, que daqui a pouco todo mundo esquece. Tem a mesma relevância de um Candy Crush, com um público mentalmente parecido com o que preenche os testes da Capricho.
Segunda: eu entendo o incômodo de um homem julgado no Lulu. O aplicativo, todo disfarçado de feminista e empoderador de mulheres, me parece tão machista quanto a ex-namorada do meu amigo, porque julga os homens pelas mesmas categorias que o machismo definiu que os homens devem ser julgados.
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Além disso, as relações de casal, por mais inseridas num contexto social que estejam, sempre vão passar por óticas muito particulares e únicas.
Se você procura reviews de alguém que te interessa romântica/sexualmente através de um aplicativo de internet, como faria antes de comprar um forno de microondas, você pode jogar fora a chance de achar alguém interessante de acordo com o seu gosto.
Você nunca sabe se a louca da história não é justamente a pessoa que criticou seu interesse romântico. O fato de outra pessoa não ter gostado não quer dizer que você vá gostar. Melhor confiar na própria percepção do que no aviso alheio.
A não ser que o cara esteja em uma lista de agressores sexuais ou coisa assim. Nesse caso, melhor correr.
Ele namorava há quatro meses com uma moça. As coisas andavam rápido, a namorada praticamente acampada na casa dele, o maior amor.
Até que um dia, enquanto ele dormia, ela começou a passar a mão no seu pênis. Ele resmungava e continuava dormindo, ela avançava mais um pouco. Ele acordou com um boquete dela. Disse que estava cansado e não queria. Ela, com o orgulho ferido, entrou em parafuso.
Agarrou o saco dele e torceu com força. Ele gritou. Ela, ofendidíssima, não parou. Ele gritou "Sua louca!", ela deu um soco na cara dele. Saiu chorando do apartamento pra nunca mais voltar.
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A nossa sociedade, machista por excelência, criou as regras: a mulher deve ser pudica e fingir que não trepa, o homem precisa ser louco por sexo e querer xoxota o tempo todo.
Duas mentiras violentas. As mulheres pagam uma conta muito mais alta, com a parte de serem estupradas e tudo mais. Não preciso nem ir fundo nisso. É mais difícil ser mulher, ponto final.
Mas isso não significa que os homens também não paguem um preço por viver numa sociedade machista. Quando o sistema é vil, o algoz também pode ser vítima.
A história do começo do texto foi contada pra mim por um rapaz segurando as lágrimas, depois de beber várias cervejas pra tomar coragem e arriscar ser ridicularizado. A ex-namorada do meu amigo era extremamente machista (além de completamente maluca, of course).
Foi ensinada que se um homem não quer sexo com ela, é ela que está com um problema. Meu amigo também foi vítima do machismo, ao ser visto como um ser que devia morrer de tesão o tempo todo, sob o risco de não ser "homem de verdade".
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Por isso, quando aparece um aplicativo como o Lulu, com mulheres dando notas e avaliando os homens, duas coisas me passam pela cabeça:
Primeira: grande coisa. É moda de internet, que daqui a pouco todo mundo esquece. Tem a mesma relevância de um Candy Crush, com um público mentalmente parecido com o que preenche os testes da Capricho.
Segunda: eu entendo o incômodo de um homem julgado no Lulu. O aplicativo, todo disfarçado de feminista e empoderador de mulheres, me parece tão machista quanto a ex-namorada do meu amigo, porque julga os homens pelas mesmas categorias que o machismo definiu que os homens devem ser julgados.
Além disso, as relações de casal, por mais inseridas num contexto social que estejam, sempre vão passar por óticas muito particulares e únicas.
Se você procura reviews de alguém que te interessa romântica/sexualmente através de um aplicativo de internet, como faria antes de comprar um forno de microondas, você pode jogar fora a chance de achar alguém interessante de acordo com o seu gosto.
Você nunca sabe se a louca da história não é justamente a pessoa que criticou seu interesse romântico. O fato de outra pessoa não ter gostado não quer dizer que você vá gostar. Melhor confiar na própria percepção do que no aviso alheio.
A não ser que o cara esteja em uma lista de agressores sexuais ou coisa assim. Nesse caso, melhor correr.
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