As mentiras que os irmãos contam
A diferença entre as pessoas legais e as chatas é que as chatas nunca tiveram um irmão mais velho.
Uma pessoa chata se acha no direito de ser o assunto da conversa em todas as conversas, que a sua vida é a mais interessante do mundo e que, com certeza, o que ela tem a dizer é relevante.
É o irmão mais velho que vai te mandar calar a boca quando você não para de falar besteira. A missão do irmão mais velho é te frustrar o máximo possível, para garantir que o seu desenvolvimento seja saudável.
Se você elaborar bem esse trauma, vai retribuir o favor e brigar com seu irmão a cada oportunidade que tiver. Assim, os dois aprendem que não são o centro do universo e vão pro mundo como pessoas melhores, castradinhas e legais.
--
Quando eu tinha uns sete anos, fui perguntar ao meu irmão o que era o Livro dos Recordes. Ele explicou:
- Recorde é quando uma pessoa faz a maior coisa do mundo. - disse ele - Tem a pessoa mais alta do mundo, a mais baixinha, a mais velha.
- Ah, tá.
- Eu estou lá.
Meu queixo caiu. Como é que eu não sabia que meu irmão era a pessoa mais alguma coisa do mundo? Mais irritante, eu já suspeitava, mas não sabia que ele já tinha sido certificado.
- Pelo quê? O que você fez?
- O maior cocô do mundo.
Eu nunca tinha visto meu irmão falar tão sério. Eu não quis acreditar.
- Mas você não lembra? Aquele dia que a gente tava na praia e a gente foi fazer cocô num ginásio?
- Não lembro. Você tá mentindo.
- Juro! Por João 8:44! - jurou ele. Crescer numa família religiosa te faz jurar de um jeito estranho.
- Quantos metros tinha o seu cocô?
- Ah, uns doze.
- DOZE METROS?
- Eu tinha comido muito peixe.
- E eu não participei?
- Participou sim, mas o seu era menor. Só tinha uns seis metros.
Fiquei triste. Eu ainda tinha muito o que crescer pra aprender a fazer merda como o meu irmão.
--
Só fui descobrir que essa história era mentira bem mais tarde, quando fui contar pra uns amigos que meu irmão estava no Guinness e me dei conta do absurdo.
Eu já era adulto.
--
Outra vez, ele me chamou pra comer cachorro-quente.
- Só que eu só tenho grana pra um cachorro-quente e meio. Você vai ter de pedir pra o cara da barraca te dar só a salsicha.
Por mim, tudo bem. Topei o passeio. Chegamos na barraca e ele pediu o lanche. Pedi também:
- Moço, pode me dar só a linguiça?
Até hoje eu confundo salsicha com linguiça. Ele não entendeu:
- O quê?
- Só a salsicha! Desculpa, me enganei. Pode ser só a salsicha?
Ele olhou pro meu irmão e prendeu o riso:
- Só se for a minha.
- OK. - Aceitei, claro. Como ele ia me vender uma salsicha que não fosse dele?
- A minha salsicha? - Ele confirmou, rindo.
A essa altura, meu irmão já rolava pelo chão, em posição fetal e com lágrimas nos olhos.
- Sim, moço.
- A minha. A minha linguiça. Pode ser a minha linguiça?
Só faltou desenhar uma linguiça ao lado de um pênis e gritar a palavra ANALOGIA várias vezes. Não adiantou:
- Moço, eu já falei que pode ser!
A ingenuidade é uma arma poderosa. Acabei ganhando um cachorro-quente completo.
--
Talvez não fosse ingenuidade. Quer dizer, eu era super novinho, mas vai que eu queria a salsicha do cara no figurativo, mesmo?
--
Todo caçula é uma vítima, mas isso é pro seu próprio bem. Ter um irmão mais velho pode ser traumático, mas te impede de ser um chato completo.
Pior é pensar que, mesmo com todas essas mentiras, minha relação com o meu irmão é a mais honesta que eu tenho na vida.
Que horror.
Uma pessoa chata se acha no direito de ser o assunto da conversa em todas as conversas, que a sua vida é a mais interessante do mundo e que, com certeza, o que ela tem a dizer é relevante.
É o irmão mais velho que vai te mandar calar a boca quando você não para de falar besteira. A missão do irmão mais velho é te frustrar o máximo possível, para garantir que o seu desenvolvimento seja saudável.
Se você elaborar bem esse trauma, vai retribuir o favor e brigar com seu irmão a cada oportunidade que tiver. Assim, os dois aprendem que não são o centro do universo e vão pro mundo como pessoas melhores, castradinhas e legais.
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Quando eu tinha uns sete anos, fui perguntar ao meu irmão o que era o Livro dos Recordes. Ele explicou:
- Recorde é quando uma pessoa faz a maior coisa do mundo. - disse ele - Tem a pessoa mais alta do mundo, a mais baixinha, a mais velha.
- Ah, tá.
- Eu estou lá.
Meu queixo caiu. Como é que eu não sabia que meu irmão era a pessoa mais alguma coisa do mundo? Mais irritante, eu já suspeitava, mas não sabia que ele já tinha sido certificado.
- Pelo quê? O que você fez?
- O maior cocô do mundo.
Eu nunca tinha visto meu irmão falar tão sério. Eu não quis acreditar.
- Mas você não lembra? Aquele dia que a gente tava na praia e a gente foi fazer cocô num ginásio?
- Não lembro. Você tá mentindo.
- Juro! Por João 8:44! - jurou ele. Crescer numa família religiosa te faz jurar de um jeito estranho.
- Quantos metros tinha o seu cocô?
- Ah, uns doze.
- DOZE METROS?
- Eu tinha comido muito peixe.
- E eu não participei?
- Participou sim, mas o seu era menor. Só tinha uns seis metros.
Fiquei triste. Eu ainda tinha muito o que crescer pra aprender a fazer merda como o meu irmão.
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Só fui descobrir que essa história era mentira bem mais tarde, quando fui contar pra uns amigos que meu irmão estava no Guinness e me dei conta do absurdo.
Eu já era adulto.
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Outra vez, ele me chamou pra comer cachorro-quente.
- Só que eu só tenho grana pra um cachorro-quente e meio. Você vai ter de pedir pra o cara da barraca te dar só a salsicha.
Por mim, tudo bem. Topei o passeio. Chegamos na barraca e ele pediu o lanche. Pedi também:
- Moço, pode me dar só a linguiça?
Até hoje eu confundo salsicha com linguiça. Ele não entendeu:
- O quê?
- Só a salsicha! Desculpa, me enganei. Pode ser só a salsicha?
Ele olhou pro meu irmão e prendeu o riso:
- Só se for a minha.
- OK. - Aceitei, claro. Como ele ia me vender uma salsicha que não fosse dele?
- A minha salsicha? - Ele confirmou, rindo.
A essa altura, meu irmão já rolava pelo chão, em posição fetal e com lágrimas nos olhos.
- Sim, moço.
- A minha. A minha linguiça. Pode ser a minha linguiça?
Só faltou desenhar uma linguiça ao lado de um pênis e gritar a palavra ANALOGIA várias vezes. Não adiantou:
- Moço, eu já falei que pode ser!
A ingenuidade é uma arma poderosa. Acabei ganhando um cachorro-quente completo.
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Talvez não fosse ingenuidade. Quer dizer, eu era super novinho, mas vai que eu queria a salsicha do cara no figurativo, mesmo?
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Todo caçula é uma vítima, mas isso é pro seu próprio bem. Ter um irmão mais velho pode ser traumático, mas te impede de ser um chato completo.
Pior é pensar que, mesmo com todas essas mentiras, minha relação com o meu irmão é a mais honesta que eu tenho na vida.
Que horror.
Cara, como sempre, muito bom! Eu sou o mais velho, mas ter duas irmãs mais novas também te ensina a não querer ser o centro das atenções...
ResponderExcluirO pior é que, mesmo assim, eu era sempre o mais inocente, hahahahaha.
kkkkkkkkkkk
ResponderExcluirPoxa vida, irmao! Fiquei mega emocionado! Voce eh o maximo, sinto muita alegria em ter tido a sorte de ter recebido voce como irmao, um verdadeiro amigo! Amo voce. Voce faz falta...abracos!!
ResponderExcluirtenho tres irmaos e sei a sorte que nós temos (ou falta dela ) por termos uns aos outros
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