Feliz
Me aconteceu uma coisa muito, muito louca.
Era sexta-feira, feriado agora, e eu estava feliz.
Eu, que reclamo de tudo o tempo todo e defendo o reclamar com todas as minhas forças, não encontrei motivo nenhum pra reclamar.
--
Me repito quando falo mal da positividade compulsória.
Ninguém é feliz o tempo todo, e se obrigar a sorrir quando você não está com nenhuma vontade de fazê-lo faz muito mal.
Se as coisas estão uma bosta, você tem mais é que refestelar na bosta mesmo e reclamar à vontade.
Mas o que aconteceu comigo foi que o dia estava lindo demais.
O céu estava um escândalo azul claro.
Seguido por uma Lua cheia embasbacante...
Seguida por uma estação espacial cruzando o céu, visível a olho nu.
Seguida por um balão, desses de festa junina, voando alto e bonito.
Seguido por fogos de artifício em algum lugar perto dali.
Eu estava cercado de bons amigos e meu coração estava tranquilo.
E ali, por absoluta falta do que reclamar, por uma irresponsabilidade do universo que deixou pra entregar um monte de coisa bonita de uma só vez, eu tava feliz pra burro.
--
Não era por falta de problema.
Eu tinha duzentas coisas pra organizar, estava atrasado em mil prazos, preocupado com questões de família e dinheiro (e quando é que qualquer um de nós não está?), alguns projetos recentes deram errado, eu não tinha dormido o suficiente, estou acima do peso e trabalhando mais do que devia.
Nada disso importou.
Eu ainda estava feliz.
Acho que os últimos dez anos de terapia valeram a pena.
--
Talvez isso não pareça importante pra quem está habituado a ser felizão de tudo (não conheço muita gente assim), mas pra mim é motivo de orgulho me flagrar contente.
Várias vezes me apavorei achando que o peixe que eu vendia não funcionava.
Não consigo mentir, ainda mais nos momentos difíceis, e muitas vezes me senti uma fraude por pregar o esforço pela saúde mental enquanto eu mesmo não estava legal.
Mas naquele momento de céu lindo, tudo o que eu construí de pouquinho em pouquinho nos últimos anos compensou. Não porque estava tudo perfeito, mas porque eu estava conseguindo aproveitar o que eu tinha de bom de um jeito que eu várias vezes imaginei ser impossível.
--
Isso me ajuda a ter fé em que as pessoas podem virar suas vidas também.
O momento em que as coisas melhoram chega. Basta você ficar firme e não desistir, e continuar se esforçando, ter muita paciência, reclamar bastante das merdas que acontecem e então aproveitar a sorte que, de vez em quando, vem.
Então, se agora parece que as coisas nunca vão ficar melhores, segura firme aí.
Pelo menos por hoje, eu estou aqui do outro lado e garanto que o desespero passa, o esforço compensa e que um dia, quando você menos perceber...
O dia vai estar lindo, a Lua vai estar embasbacante, você vai estar cercado de amigos, surpreso por não ter do que reclamar...
E vai se dar conta de que está feliz - pelo menos por aquele momento.
Era sexta-feira, feriado agora, e eu estava feliz.
Eu, que reclamo de tudo o tempo todo e defendo o reclamar com todas as minhas forças, não encontrei motivo nenhum pra reclamar.
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Me repito quando falo mal da positividade compulsória.
Ninguém é feliz o tempo todo, e se obrigar a sorrir quando você não está com nenhuma vontade de fazê-lo faz muito mal.
Se as coisas estão uma bosta, você tem mais é que refestelar na bosta mesmo e reclamar à vontade.
Mas o que aconteceu comigo foi que o dia estava lindo demais.
O céu estava um escândalo azul claro.
Seguido por uma Lua cheia embasbacante...
Seguida por uma estação espacial cruzando o céu, visível a olho nu.
Seguida por um balão, desses de festa junina, voando alto e bonito.
Seguido por fogos de artifício em algum lugar perto dali.
Eu estava cercado de bons amigos e meu coração estava tranquilo.
E ali, por absoluta falta do que reclamar, por uma irresponsabilidade do universo que deixou pra entregar um monte de coisa bonita de uma só vez, eu tava feliz pra burro.
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Não era por falta de problema.
Eu tinha duzentas coisas pra organizar, estava atrasado em mil prazos, preocupado com questões de família e dinheiro (e quando é que qualquer um de nós não está?), alguns projetos recentes deram errado, eu não tinha dormido o suficiente, estou acima do peso e trabalhando mais do que devia.
Nada disso importou.
Eu ainda estava feliz.
Acho que os últimos dez anos de terapia valeram a pena.
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Talvez isso não pareça importante pra quem está habituado a ser felizão de tudo (não conheço muita gente assim), mas pra mim é motivo de orgulho me flagrar contente.
Várias vezes me apavorei achando que o peixe que eu vendia não funcionava.
Não consigo mentir, ainda mais nos momentos difíceis, e muitas vezes me senti uma fraude por pregar o esforço pela saúde mental enquanto eu mesmo não estava legal.
Mas naquele momento de céu lindo, tudo o que eu construí de pouquinho em pouquinho nos últimos anos compensou. Não porque estava tudo perfeito, mas porque eu estava conseguindo aproveitar o que eu tinha de bom de um jeito que eu várias vezes imaginei ser impossível.
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Isso me ajuda a ter fé em que as pessoas podem virar suas vidas também.
O momento em que as coisas melhoram chega. Basta você ficar firme e não desistir, e continuar se esforçando, ter muita paciência, reclamar bastante das merdas que acontecem e então aproveitar a sorte que, de vez em quando, vem.
Então, se agora parece que as coisas nunca vão ficar melhores, segura firme aí.
Pelo menos por hoje, eu estou aqui do outro lado e garanto que o desespero passa, o esforço compensa e que um dia, quando você menos perceber...
O dia vai estar lindo, a Lua vai estar embasbacante, você vai estar cercado de amigos, surpreso por não ter do que reclamar...
E vai se dar conta de que está feliz - pelo menos por aquele momento.
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