Mergulhar contra a barbárie
Sabe como a gente conhece muito melhor o sistema solar do que o fundo do oceano?
As expedições pra lá são longas, frustantes e demoradas. Tem muito pouca luz nas profundez pra que a gente consiga enxergar direito o que acontece por lá.
É muito mais prático olhar para as estrelas, que estão mais distantes mas são muito mais acessíveis aos nossos olhos.
É assim também com a dor da gente.
--
Viver dói muito.
Em todo mundo. Não há pessoa no planeta em que viver não doa.
E a dor que todo mundo sente vem de tão fundo lá dentro que é muito difícil conhecê-la por inteiro.
Por isso, muitas vezes a gente desiste da expedição antes de dar tempo de descobrir o que é que a gente guarda no profundo.
E, como uma alga subaquática que talvez curasse o câncer, nossos recantos mais promissores ficam escondidos pra sempre.
--
Com tanta recusa ao mergulho, nos resta olhar para fora.
A vida dos outros, o comportamento alheio, o perigo que os outros oferecem, suas culpas (nunca as nossas, essas a gente deixa submersas).
O outro é o que eu enxergo enquanto minha vida dói, e por isso mesmo, ele deve ser o responsável pelo amargo da minha existência.
Enquanto isso, um fundo do mar inteiro na gente pede por atenção, aumentando as forças da engrenagem da angústia que, na nossa recusa, volta-se ainda mais para fora, feito um umbigo mal amarrado.
--
Temperando a dor com ignorância, sobra odiar quem a gente imagina ser o culpado.
Aí, quando a gente percebe, começa a apoiar tudo o que é destruição.
Tudo o que é arma, tudo que é vil, tudo o que pode passar por cima daquilo que nos é estranho e nos lembra da profundeza que não fomos capazes de enfrentar.
Quem evita olhar pra dentro precisa destruir o outro por não aceitar o que há de vil em si.
De repente, vê uma criança morrendo com um tiro de fuzil nas costas e acha normal.
--
Eu faço o maior esforço possível pra tentar compreender o que há de humano em quem apoia a barbárie. Eu sei que a vida dessas pessoas também dói.
Eu sei que elas acham que estão combatendo o seu inimigo.
Mas o inimigo é tão obviamente outro - a quem uma criança de oito anos ofereceria perigo? - que a maior das empatias se revolta. Alguma outra coisa acontece dentro dessas pessoas pra justificar tanto ódio.
Torço para que em algum momento esse povo esteja disposto a mergulhar. É urgente olhar pra dentro, antes que a barbárie nos domine completamente.
As expedições pra lá são longas, frustantes e demoradas. Tem muito pouca luz nas profundez pra que a gente consiga enxergar direito o que acontece por lá.
É muito mais prático olhar para as estrelas, que estão mais distantes mas são muito mais acessíveis aos nossos olhos.
É assim também com a dor da gente.
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Viver dói muito.
Em todo mundo. Não há pessoa no planeta em que viver não doa.
E a dor que todo mundo sente vem de tão fundo lá dentro que é muito difícil conhecê-la por inteiro.
Por isso, muitas vezes a gente desiste da expedição antes de dar tempo de descobrir o que é que a gente guarda no profundo.
E, como uma alga subaquática que talvez curasse o câncer, nossos recantos mais promissores ficam escondidos pra sempre.
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Com tanta recusa ao mergulho, nos resta olhar para fora.
A vida dos outros, o comportamento alheio, o perigo que os outros oferecem, suas culpas (nunca as nossas, essas a gente deixa submersas).
O outro é o que eu enxergo enquanto minha vida dói, e por isso mesmo, ele deve ser o responsável pelo amargo da minha existência.
Enquanto isso, um fundo do mar inteiro na gente pede por atenção, aumentando as forças da engrenagem da angústia que, na nossa recusa, volta-se ainda mais para fora, feito um umbigo mal amarrado.
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Temperando a dor com ignorância, sobra odiar quem a gente imagina ser o culpado.
Aí, quando a gente percebe, começa a apoiar tudo o que é destruição.
Tudo o que é arma, tudo que é vil, tudo o que pode passar por cima daquilo que nos é estranho e nos lembra da profundeza que não fomos capazes de enfrentar.
Quem evita olhar pra dentro precisa destruir o outro por não aceitar o que há de vil em si.
De repente, vê uma criança morrendo com um tiro de fuzil nas costas e acha normal.
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Eu faço o maior esforço possível pra tentar compreender o que há de humano em quem apoia a barbárie. Eu sei que a vida dessas pessoas também dói.
Eu sei que elas acham que estão combatendo o seu inimigo.
Mas o inimigo é tão obviamente outro - a quem uma criança de oito anos ofereceria perigo? - que a maior das empatias se revolta. Alguma outra coisa acontece dentro dessas pessoas pra justificar tanto ódio.
Torço para que em algum momento esse povo esteja disposto a mergulhar. É urgente olhar pra dentro, antes que a barbárie nos domine completamente.
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