Com esforço, sem sacrifício
Estava ouvindo a música Sacrifice, do Elton John - um clássico das salas de espera ao redor do mundo.
Desde criança essa música me chama atenção, primeiro pela irritação que o riffzinho de teclado Casio ao longo dela me causa. Ô coisinha chata e grudenta, esse PÓMPOM-POMPÔM que começa a música.
Tô lá eu, quinze anos depois de ouvir essa música pela última vez, e a cabeça começa a fazer PÓMPOM-POMPÔM sem parar. É um dom que algumas músicas tem, ganhar fãs através de uma irritação hipnótica.
Nunca gostei muito dela, apesar de amar Elton John desde criancinha.
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Esses tempos, num desses surtos de PÓMPOM-POMPÔM espontâneo, comecei a ouvir a música em looping pra ver se ela saía da minha cabeça. Como tudo que é mandado embora bate o pé pra ficar, acabei me apaixonando pela música.
A letra é sobre um casal que está junto há algum tempo e que tenta manter a paixão mesmo depois do casamento.
Entre um riffzinho de teclado e outro, uma discussão quase amarga sobre como as pessoas se distanciam, o medo de abandono e como a mente começa a fantasiar com outras opções quando você está há muito tempo com a mesma pessoa.
Ainda assim, a música é otimista. A conclusão do eu-lírico é a de que - apesar de tudo - ficar com a outra pessoa não é sacrifício nenhum.
Quer dizer, tem raiva, tem mágoa, tem medo, tem vontade de fugir, e é um esforço danado lidar com isso... mas não chega a ser assim, um sacrifício tão grande.
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(pausa pra me dar conta que eu estou escrevendo isso muito mais baseado na sensação que eu tenho ao ouvir a música do que em um estudo profundo da letra - talvez, reparando bem, seja tudo uma metáfora pra sacrifícios animais ao deus Baal e eu não tenha percebido. ops.)
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Enfim, acho que essa acaba sendo uma das músicas populares mais sinceras sobre como é estar em um relacionamento a longo prazo.
Não tem nada de amor eterno, nada de promessas e nada de grandes emoções. Só uma série de frustrações e pequenos esforços pra continuar no barco. E por que cada pessoa continua no barco? Ora, porque não é nenhum sacrifício. Ela quer estar ali - mesmo ficar sendo difícil.
Talvez a música tenha virado sucesso por conseguir traduzir como permanecer com alguém através dos anos pode ser fácil e difícil ao mesmo tempo. A convivência com um cônjuge pode ser chata, irritante, difícil de lidar, mas ainda assim impossível de tirar da cabeça, como o PÓMPOM-POMPÔM de um tecladinho Casio.
Bernie Taupin e Elton John acertaram em cheio nessa música: amar alguém por muito tempo exige bastante esforço, sim - mas não é sacrifício algum.

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