Pode proibir
Quando eu era criança, era proibido falar "adoro".
"Adorar, só a Deus!", me falavam, e eu ficava culpado porque só queria adorar sorvete de flocos em paz e já estava cometendo uma blasfêmia.
Também não podia falar "Nossa", porque isso vinha de "Nossa Senhora de Aparecida", que na nossa casa era equivalente a implorar pro próprio diabo deslizar pra dentro da nossa casa num carrinho de rolimã.
Aliás, também não podia falar "Diabo". Se falasse, tinha que bater na boca e falar "desculpa, Jesus". Só pedir desculpa não valia nada, Jesus só perdoava se tivesse uma violenciazinha.
--
Um pouco mais velho, era proibido falar "sexo" se não fosse na frase "sexo só é apropriado depois do casamento". Mesmo se fosse nessa frase, alguém ia perguntar qual o motivo de você estar tendo uma conversa sobre um assunto desses.
Também não podia falar o kit que vinha com sexo, ou seja, qualquer palavrão. Caralho, buceta, boquete, tomar nu cu, foda e puta, tudo proibido. No máximo um "merda", mas só de vez em quando.
Mais tarde, eu não podia falar "gay". Não porque a palavra era proibida, mas porque a coisa toda era muito errada. Só se gay fosse xingamento, mas nesse contexto eu muito mais ouvia do que falava.
--
Quase ficando adulto, eu não podia falar "amor", porque era muito vergonhoso sair falando que ama alguém. O lance era fingir desinteresse.
Já adulto, eu não podia dizer "Não". Como dizer não, se uma boa pessoa diz sim pra tudo o que lhe pedem? Pessoas responsáveis respondem sim pra tudo.
Mas agora... Nossa! Adoro, adoro, adoro falar de sexo. Falo tanto palavrão que pareço um diabo. Amor tá liberado, se for gay melhor ainda.
E não? Não paro de falar não. Acho foda. Não não não não não.
O engraçado é que, se não tivessem me proibido tudo isso... Provavelmente eu teria ficado quietinho.
Nada como uma proibição pra atiçar a curiosidade... e o prazer de ceder depois.
Por mim, podem proibir tudo. Tá liberado.
"Adorar, só a Deus!", me falavam, e eu ficava culpado porque só queria adorar sorvete de flocos em paz e já estava cometendo uma blasfêmia.
Também não podia falar "Nossa", porque isso vinha de "Nossa Senhora de Aparecida", que na nossa casa era equivalente a implorar pro próprio diabo deslizar pra dentro da nossa casa num carrinho de rolimã.
Aliás, também não podia falar "Diabo". Se falasse, tinha que bater na boca e falar "desculpa, Jesus". Só pedir desculpa não valia nada, Jesus só perdoava se tivesse uma violenciazinha.
--
Um pouco mais velho, era proibido falar "sexo" se não fosse na frase "sexo só é apropriado depois do casamento". Mesmo se fosse nessa frase, alguém ia perguntar qual o motivo de você estar tendo uma conversa sobre um assunto desses.
Também não podia falar o kit que vinha com sexo, ou seja, qualquer palavrão. Caralho, buceta, boquete, tomar nu cu, foda e puta, tudo proibido. No máximo um "merda", mas só de vez em quando.
Mais tarde, eu não podia falar "gay". Não porque a palavra era proibida, mas porque a coisa toda era muito errada. Só se gay fosse xingamento, mas nesse contexto eu muito mais ouvia do que falava.
--
Quase ficando adulto, eu não podia falar "amor", porque era muito vergonhoso sair falando que ama alguém. O lance era fingir desinteresse.
Já adulto, eu não podia dizer "Não". Como dizer não, se uma boa pessoa diz sim pra tudo o que lhe pedem? Pessoas responsáveis respondem sim pra tudo.
Mas agora... Nossa! Adoro, adoro, adoro falar de sexo. Falo tanto palavrão que pareço um diabo. Amor tá liberado, se for gay melhor ainda.
E não? Não paro de falar não. Acho foda. Não não não não não.
O engraçado é que, se não tivessem me proibido tudo isso... Provavelmente eu teria ficado quietinho.
Nada como uma proibição pra atiçar a curiosidade... e o prazer de ceder depois.
Por mim, podem proibir tudo. Tá liberado.

Comentários
Postar um comentário