O Mundo de Ontem
Stefan Zweig foi um escritor que nasceu na Áustria e que, sabendo que a sua identidade judaica não cairia muito bem em uma terra dominada pelo nazismo, veio parar no Brasil.
Atravessar guerras mundiais tende a deixar as pessoas mais idealistas, e Zweig nunca abandonou sua esperança de viver em um mundo mais pacífico, civilizado, cheio de potencial - como a Viena que ele idealizava e viu ser destruída.
Em sua nova pátria, Zweig tirou das malas o seu idealismo e o adaptou para Terra Brasilis: foi ele o responsável por cunhar a frase "O Brasil é o País do Futuro".
Ele escrevia quase utopicamente sobre as qualidades do nosso país, sua capacidade de conviver com as diferenças e o potencial do Brasil de se tornar uma grande nação.
Mas mesmo apostando toda sua energia em uma nova esperança de nação, o estrago feito por sentir que o lugar em que nasceu nunca mais seria o mesmo já tinha lhe machucado demais.
Sua antiga vida lhe perseguia como um fantasma:
"Minha crise interior consiste em não ser capaz de me identificar com o eu do exílio", escreveu ele, pouco antes de cometer suicídio.
Até sua autobiografia foi nomeada em referência a essa crise: "O Mundo de Ontem".
Por mais que tenha amado a terra em que desembarcou, Zweig nunca conseguiu superar o mundo que deixou para trás. No fundo, ele sabia que jamais conseguiria amar novamente um lugar como amou a terra em que ele nasceu - uma terra que já não existia mais.
--
O coronavírus trouxe consigo a maior cambalhota que vimos o mundo dar no nosso tempo de vida.
O mundo globalizado trancou-se em casa e não sabemos como ele sairá de lá.
Por isso é importante evitar cair na armadilha de uma ideia utópica de como nos reconstruiremos depois de tudo isso. O mundo continuará tão distante do ideal quanto sempre foi.
Os trabalhos, os lugares, as pessoas que existiam antes dessa pandemia não serão mais as mesmas. Precisaremos digerir um luto gigante pelo mundo que ficou para trás e, de alguma forma que Zweig não foi capaz de encontrar, inventar em nós mesmos a capacidade de viver vidas diferentes em um mundo completamente novo. Não poderemos ser os mesmos em um mundo que é outro.
Até quem sobreviver a essa pandemia vai ter morrido um pouquinho.
Precisaremos renascer sem apegos ao que tínhamos antes. Nossa Viena foi destruída.
Não sabemos como será o mundo de amanhã.
A maior esperança que podemos ter é que ele nos surpreenda.
Atravessar guerras mundiais tende a deixar as pessoas mais idealistas, e Zweig nunca abandonou sua esperança de viver em um mundo mais pacífico, civilizado, cheio de potencial - como a Viena que ele idealizava e viu ser destruída.
Em sua nova pátria, Zweig tirou das malas o seu idealismo e o adaptou para Terra Brasilis: foi ele o responsável por cunhar a frase "O Brasil é o País do Futuro".
Ele escrevia quase utopicamente sobre as qualidades do nosso país, sua capacidade de conviver com as diferenças e o potencial do Brasil de se tornar uma grande nação.
Mas mesmo apostando toda sua energia em uma nova esperança de nação, o estrago feito por sentir que o lugar em que nasceu nunca mais seria o mesmo já tinha lhe machucado demais.
Sua antiga vida lhe perseguia como um fantasma:
"Minha crise interior consiste em não ser capaz de me identificar com o eu do exílio", escreveu ele, pouco antes de cometer suicídio.
Até sua autobiografia foi nomeada em referência a essa crise: "O Mundo de Ontem".
Por mais que tenha amado a terra em que desembarcou, Zweig nunca conseguiu superar o mundo que deixou para trás. No fundo, ele sabia que jamais conseguiria amar novamente um lugar como amou a terra em que ele nasceu - uma terra que já não existia mais.
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O coronavírus trouxe consigo a maior cambalhota que vimos o mundo dar no nosso tempo de vida.
O mundo globalizado trancou-se em casa e não sabemos como ele sairá de lá.
Por isso é importante evitar cair na armadilha de uma ideia utópica de como nos reconstruiremos depois de tudo isso. O mundo continuará tão distante do ideal quanto sempre foi.
Os trabalhos, os lugares, as pessoas que existiam antes dessa pandemia não serão mais as mesmas. Precisaremos digerir um luto gigante pelo mundo que ficou para trás e, de alguma forma que Zweig não foi capaz de encontrar, inventar em nós mesmos a capacidade de viver vidas diferentes em um mundo completamente novo. Não poderemos ser os mesmos em um mundo que é outro.
Até quem sobreviver a essa pandemia vai ter morrido um pouquinho.
Precisaremos renascer sem apegos ao que tínhamos antes. Nossa Viena foi destruída.
Não sabemos como será o mundo de amanhã.
A maior esperança que podemos ter é que ele nos surpreenda.

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