Trinta

Tô fazendo trinta anos hoje e achando isso muito engraçado.

Primeiro porque era pra ser um dia importante pra mim, mas na real eu passei o dia tentando focar no trabalho enquanto o gato ficava no meu colo me mordendo. Foi um dia normal, legal-e-chato como os outros 10955 que eu vivi até hoje. O sentimento de fazer trinta anos não veio. Acho que o sentimento de envelhecer vai bater mesmo é no dia do meu aniversário de noventa anos. 

Ou na quarta que vem, sei lá. Vai passar rápido do mesmo jeito.

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O doido foi que eu passei o ano passado inteiro me sentindo muito velho, gastando muito miolo tentando lidar com a vida que corre, consciente demais da passagem do tempo e da morte que está sempre dançando MC Zaac ao nosso redor.

Agora parece que a coisa virou. Tô me sentindo muito novo. 
Não novo no sentido "sou jovem e cheio de gás", mas no sentido "espero não fazer xixi na calça na escola hoje". 

É como se eu tivesse pouquíssima capacidade pra ser um adulto. Como se eu estivesse naquele filme "De repente 30", e amanhã eu fosse acordar aliviado, com oito anos de idade, e nada tivesse passado da maldição de um brinquedo num parque de diversões. 

O Jung falava que não acreditava em terapeutas com menos de trinta anos, porque lhes faltaria experiência de vida. 

Bom, Jung, pode reservar um horário comigo que eu tô pronto, mas fique sabendo que eu me sinto um profissional muito mais incompleto do que quando eu me formei, aos vinte e três.

A única coisa que sinto falta dos vinte anos é aquela confiança cega de que eu vou dar conta das coisas e tudo vai funcionar bem. Ainda acho que tudo se resolve de algum jeito, só não sei mais o que é "tudo bem". Nhé.

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Além disso, trinta anos é tempo suficiente pra ficar de saco cheio de muita coisa.

Será que eu ainda quero fazer meme de psicologia pra botar na internet? Será que eu quero mesmo ser a pessoa que escreve textão, tentando compartilhar meu conhecimento limitado, feito nas coxas, mas tentando ser sincero?

Será que eu quero passar o tempo que me resta fazendo mais daquilo que eu sempre fiz?

Porque o que tem me ocupado agora é fazer as pazes com o menos. 
O mais é supervalorizado. Tô achando muito tranquilo ser menos interessante, produzir conteúdos menos calculados, ser menos bem sucedido, menos importante... Até menos feliz pode ser. 

É muito bobo precisar ser mais e mais feliz, como se a felicidade da gente fosse o PIB da China. Prefiro deflacionar em paz.

Sei que tenho ganho muita consciência de como eu sou pouquinho. 

Aliás, de como tudo é tão pouquinho. Como é pouco a gente sonhar grande, quando no fim das contas acaba sentindo falta mesmo é do gramado da casa da vó da gente.

Essa é a minha meta dos trinta anos: ser menos. 

Quero ser pouquinho. Quero ter toda a pequena e esquecível potência de comer um pedaço de bolo de milho olhando um gramado simples. Quero jogar fora as expectativas das grandes emoções, por saber que elas vem de surpresa e não em datas planejadas.

A não ser no meu aniversário de noventa anos. 
Lá eu pretendo me emocionar bastante. Vocês estão todos convidados, se a quarentena já tiver acabado.


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