A importância de um elogio
Passei os últimos dias trabalhando em dois empregos, feito o Julius. Além da árdua jornada de ouvir as pessoas e falar "uhum", estive dando consultoria em alguns roteiros pra cinema. Roteiros modestos, de iniciantes, num projeto bem legal do meu amigo Rober.
A ideia é pegar pessoas que nunca trabalharam com cinema e ensiná-las a escrever roteiros. Como seriam os filmes criados por pessoas que jamais pensaram que poderiam fazer um filme um dia?
Roteiro escrito, começa a consultoria, e é aí que eu entro. Eu, o diretor e mais uma consultora nos reunimos com a pessoa e damos palpites sobre o que ela escreveu. Como eu não domino a linguagem do cinema, fico mais falando sobre os personagens, os diálogos, como eu sinto que as cenas estão se desenvolvendo... É um barato.
Me decepcionei com a minha performance como jurado. Já assisti programa de calouros o suficiente pra saber que legal mesmo é o jurado cuzão, e era assim que eu queria ser. Meio Pedro de Lara, meio Simon Cowell, olhar pro texto da pessoa e falar "seu roteiro está mais previsível que trem no Japão, minha crítica construtiva é que você bote fogo".
Mas não, eu sou o frouxo que bate palma pra tudo. Eu sou a Paula Abdul (lembram dela?), eu sou a Elke Maravilha (ai de quem não lembrar). E, mesmo assim, estou bem feliz com os resultados. Aparentemente, ser gentil com as pessoas é construtivo!?!?
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As pessoas precisam muito menos de crítica do que imaginam. A maior parte das pessoas já se critica o tempo todo. Temos nosso Pedro de Lara interior muito bem calibrado.
Já um elogio, quando nos derrete, é capaz de arrancar graus de capricho que jamais imaginaríamos.
Nos atendimentos clínicos costuma ser parecido: eu não sou o tipo de terapeuta que dá tapas na cara, jogando a realidade na fuça das pessoas. Zelo pelos meus pacientes como um zelador cuida de um prédio: passando pano.
"Ah, matei uma pessoa", tudo bem, você deve ter tido seus motivos. Pelo menos você foi honesto ao assumir isso.
E funciona, viu? Uma pessoa que é aceita na sua verdade não precisa se esconder, e quando não se esconde, também se revela pra si mesma. E, sendo honesta consigo, sabe exatamente o que precisa ajustar.
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Quando eu estava começando a escrever blog, com uns treze anos, e os textos eram ainda mais confusos do que hoje, recebi um comentário de um escritor que eu adorava acompanhar. E aí, ele jogou na cara como eu era ruim? Ele falou que eu precisava revisar melhor, ou me deu algum conselho sobre como avançar no processo criativo?
Não. Ele me disse: "Sério que você só tem isso de idade? Cara, você é um escritor!"
E isso me afetou pra sempre. Se ele, que eu admirava tanto, me disse que eu era um escritor, como eu poderia discordar? Desde então, trabalhei horrores pra merecer o título.
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E quanto àquelas pessoas que tem certeza de que são perfeitas em tudo e fazem trabalhos ruins, elas não merecem críticas? Merecem.
Mas um, muitas vezes essas pessoas são bem mais inseguras do que parecem, e só projetam a imagem de certeza do que estão fazendo; e dois, a realidade vai chegar pra criticá-las com força em algum momento.
Nossa crítica nem sempre é tão necessária assim, e por vezes vem da nossa inveja da pessoa conseguir ter a autoestima tão boa enquanto nosso processo criativo é sofrido e cheio de dedos autoapontados.
Dá pra construir muito mais coisa sendo construtivo. No mínimo do mínimo, um elogio vai fazer a outra pessoa sorrir. Se ela não se tornar melhor depois de uma gentileza, é muito improvável que ela fosse melhorar com uma crítica.
Tome isso pela gente que passa a vida se jogando pedra e continua se achando uma bosta. Quem sabe, com o tempo, a gente aprenda a se elogiar também...

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