Dezessete de maio
17 de maio: dia de combate à homofobia.
Pra quem não sabe, esse é o dia em que todos os homossexuais vestem roupa de camuflagem e vão pra rua dar porrada em gente retrógrada.
Como essa programação não vai rolar esse ano por causa da pandemia, quero aproveitar pra falar sobre saúde mental entre LGBTs, e porque ainda somos uma comunidade vulnerável mesmo com tantos avanços nas nossas pautas.
A exclusão não precisa ser escancarada. Só sentir que não cabe entre as pessoas que estão à nossa volta já deixa um impacto grande, e a gente leva um tempo pra achar nossa própria turma. Enquanto isso, muitos de nós passam por uma solidão pesada.
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Não por acaso, as vítimas de violência do tal serial killer de Curitiba eram todos jovens homossexuais que moravam longe das suas famílias, sozinhos e provavelmente desconfortáveis de compartilhar as suas rotinas afetivas com as pessoas próximas.
Solidão é abandono. Solidão é desespero. Solidão pode gerar comportamentos muito complicados.
Eu mesmo, quando novinho, já pulei de carro em movimento por conta de maluco de internet, já sofri violência sexual mais de uma vez. E olha que eu sempre fui o maior medroso pra correr risco.
Essa é uma história que muitos de nós compartilhamos - e quem sobrevive, muitas vezes, sobrevive por sorte.
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É importante refletir sobre como buscamos o nosso prazer.
A gente precisa se perguntar: Meu comportamento é autodestrutivo? Estou correndo algum risco? Meus hábitos podem me fazer mal a longo prazo?
Não é moralismo: às vezes, sem perceber, a gente reproduz o que ouviu a vida inteira: que a nossa vida não importa, que nossa sexualidade vai nos fazer mal, que nosso comportamento merece punição.
Nessas, a gente se trata com ódio pensando que tá se amando.
Leva tempo pra aprender a se cuidar, a ter carinho consigo, a construir uma rede de apoio com a qual você pode contar, mas isso faz toda a diferença.
Gays jovens: na hora de um encontro, avisem seus amigos.
Falem a hora que vão sair, combinem de receber uma ligação depois de um tempo, passem o contato da pessoa que vai sair contigo.
É pra isso que amigo serve.
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É bom aprender a ser amigo também: se a gente se chama de comunidade, é porque precisa ser uma.
E como comunidade que compartilha um trauma de exclusão, a gente também vai compartilhar questões com a nossa autoestima.
Aí fica muito fácil direcionar nosso senso de não merecimento em afirmar o próprio valor por conta de aparência, comportamento ou posição social - qualquer fiapo que faça parecer que a gente não é tão ruim quanto pensa.
Acontece que isso não importa em nada pro mundo. Quem vai nos odiar vai odiar de qualquer jeito, não importa o quão cheiroso a gente seja. É urgente perceber que estamos de mãos dadas na exclusão, e que precisa tratar os nossos com inclusão e respeito, não competição.
Cada um de nós tem valor e merece amor, sim, ainda que não caiba em nenhum desses parâmetros externos que a gente pensa que servem pra alguma coisa.
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O principal lugar pra combater a LGBTfobia é dentro da gente.
O conselho é clichê, mas vale: se puder, faça terapia.
Conte a sua história. Conte mil vezes, repita até que ela faça sentido. Escute-se contando a sua história até que ela aponte uma direção em que você se sinta válido, digno, acolhido.
Se possível, em comunidade.
(isso tudo tá muito focado no G da sigla, mas isso é o que eu posso contribuir com a minha experiência. gostaria mesmo de ouvir quais conselhos pessoas com outros olhares podem contribuir)

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