Sobre Paulo Gustavo



Triste demais a morte do Paulo Gustavo.


Hoje mesmo estava lendo sobre "Bury your gays", o nome dado pro fenômeno de personagens homossexuais da ficção quase sempre terem destinos trágicos, quase sempre morrendo ou sofrendo muito em vez de ter um final feliz.


Personagens gays no cinema e TV não eram tão raros para a minha geração, mas quase sempre sofriam um preconceito gigantesco ou morriam. Os personagens de Paulo Gustavo no cinema pareciam escapar disso: eram leves e felizes.


Ele mesmo parecia escapar do clichê: um homem gay, assumido, bem-sucedido, casado com um homem lindo e com dois filhos saídos de um comercial de fraldas.


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É muito simbólico que o último filme do Minha Mãe é uma Peça seja justamente sobre a dona Hermínia aceitando a homossexualidade do filho e o acompanhando em sua festa de casamento. O personagem que, na história, representava o próprio Paulo Gustavo finalmente tinha o seu final feliz.


Quem não é da comunidade LGBT+ não entende o impacto desse final feliz chegar a um grande público. O sucesso do filme fez milhares de pessoas serem expostas a um personagem gay sendo aceito pela família e encontrando o amor.


Isso deixa ainda mais triste imaginar que o Paulo não teve o final que merecia, de envelhecer com o marido e ver seus filhos crescerem.


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Assisti Paulo Gustavo ao vivo apenas uma vez, quando uma amiga me deu ingressos para a sua peça. Vi a peça como quem está pronto para escrever uma crítica para um jornal, e achei defeito em muitas coisas. Achei os personagens estereotipados, apelativos. Fiquei chocado que praticamente metade do espetáculo era só ele vestido de Beyoncé, dançando e dublando as músicas dela por longos minutos.

Sem história, nem nada, só pelo espetáculo mesmo.


A princípio fiquei desconfortável, mas no final da peça, o teatro Guaíra lotado de curitibanos - quase sempre muito conservadores - aplaudiu de pé aquele homem gay que falava alto, se vestia de mulher, dançava Beyoncé e contava piadas.


Aí tudo clicou: ele não estava ali pra representar comunidade nenhuma - muito menos às minhas expectativas carregadas de recalque de como um artista gay deveria agir - apenas a própria liberdade.


Com isso, ele parece ter inspirado muita gente: viveu autenticamente, conquistou o inimaginável para um homem gay no entretenimento brasileiro, inspirou aceitação em muitas famílias, nos convenceu da possibilidade de finais felizes e fez muita gente sorrir.


Parece ter sido uma vida plena.

Curta, mas inspiradoramente feliz.

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