Três remédios
Agora que o Instagram tem mais correntes que um praticante de BDSM, toda semana aparece uma diferente que me chama atenção.
A dessa semana é uma foto sua e três remédios que te representam.
Dá pra conhecer muito sobre as pessoas assim: Olha, fulano toma omeprazol, é da turminha da dor do estômago! Beltrano é dos meus, toma dipirona 1g!
Curiosamente, não vi uma pessoa ser honesta e postar um laxantezinho ou remédio pra verme...
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Se eu estivesse num dia mais chato, talvez fosse interpretar isso como um sintoma de uma medicalização excessiva da sociedade. Olha como a gente se identifica com remédios, que horror!
Mas poxa vida, as pessoas postam aquilo que ressoa com elas. Se tanta gente ressoa com essa hipocondria, é porque o que elas tem em comum é a dor. Que bom que existe algum remédio que possa ajudar.
Além disso, até ter um posto de saúde em cada esquina eu vou teimar que não existe tanta medicalização assim. É a mesma coisa que reclamar que a língua portuguesa vai acabar se dez por cento da população estudar em inglês.
Ainda falta muito acesso pra isso ser um problema.
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Eu já fui dessas pessoas avessas à remédio. Imagina, botar uma coisa química dentro do meu corpo! Eu comia meu Cheetos com dor mesmo e ia dormir.
Hoje não. Hoje eu adoro remédio.
Meus amigos também, o papo entre a gente volta e meia vai parar no assunto. E rende, viu?
Eu tomava uma dipirona 1g por dia até alguém me recomendar suplementar magnésio pra diminuir as crises de enxaqueca tenebrosas que eu tinha. Melhorou muito e hoje eu sou uma testemunha do Magnésio. Amém, irmãos.
Um dos meus sites favoritos do navegador é o outlet da Ultrafarma. A página é ilustrada por uma foto de uma velhinha, numa semiótica que remete a produtos próximos de data de expirar. É lá que eu compro remédios que eu nunca vou tomar na vida só pelo prazer de oferecer pra uma visita que chegue aqui em casa.
Vitaminas também. Vai tudo pro xixi? Pois vou fazer xixi de luxo. Funcionou pra Glória Maria e vai funcionar pra mim também.
Tá certo que estou falando de coisas leves, uma aspirina, uma simeticona... Na hora de tomar oxicodona e da morfina por conta própria eu concordo, vamos moderar um pouquinho. Melhor tomar um chazinho da vovó mesmo.
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Os piores são os que tentam subverter a corrente.
Três remédios que combinam com você: uma foto de caminhada, uma foto de floresta e uma foto vestindo roupão e tomando champagne. Ugh.
Ou ainda, três remédios: uma foice, um martelo e a foto do Lula. Calma aí, camarada. Revolução é necessária, mas não é remédio.
Lembram daqueles posts de conscientização tipo "Amigo não é terapia, terapia é com psicólogo"? Quero o conselho de Farmácia promovendo uma campanha de "Caminhada não é remédio. Remédio é remédio. Vem aqui na DrogaSaúde que eu te dou 80% de desconto."
Teve um que colocou como remédio uma foto dele mesmo fazendo crossfit! Me deu vontade de vomitar.
Por sorte, eu tinha uma caixa de Eno por perto.

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