Abaixo a conciliação!



"Eleição é um barato", penso eu, ignorando minha coluna travada de tanto estresse.


No primeiro turno, os candidatos parecem adolescentes rebeldes e fazem questão de mostrar que são diferentes dos outros.

No segundo turno é o contrário: "Olha, eu não sou tão extremo assim, sou como você! Vem aqui, moderado! Senta no meu colo, eu não vou morder."

Hoje eu vi um pessoal falando que a esquerda devia se flexibilizar e dialogar com os evangélicos mais radicais.

Eu tentei fazer isso com um evangélico que estava pregando no ônibus, mas não consegui gritar tanto quanto ele. Em defesa dele, ele estava bem ocupado dizendo que pessoas como eu devem ir pro inferno.


Pelo menos eu fiz um gesto de aproximação.


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Não tem nada mais sem graça do que gente perpetuamente em cima do muro, que faz questão de se colocar como muito moderado como se isso fosse a maior qualidade do mundo. Se fosse assim, fogão que só deixasse a comida morna faria o maior sucesso.

Acredito que muito da irritação de quem tem posições mais moderadas com quem tem opiniões radicais vem de não aceitar a parte mais radical de si. Por medo do confronto, a gente fica conciliador.

E, como pessoa assumidamente conciliadora, assumo: a gente é pau mole pra caramba.


Eu falo "veja, ninguém é a favor do aborto, é uma questão de legalizar pra morrer menos gente", mas a minha vontade é falar "mas putalamerda, tem estudos mostrando que lugares com aborto permitido tem MENOS abortos por conseguir abordar a gravidez indesejada com mais abertura, você QUER que morra mais gente?".

Eu falo "olha bem, os homossexuais só querem o direito de constituir suas famílias", mas por dentro eu sei bem que se aparecerem vinte Josés Loretos na minha frente, eu iria pra Noronha com os vinte e nunca mais ia lembrar de telefonar pra parente algum.

Aí acontece nem a outra pessoa concorda com o meu ponto, nem eu expressei o que eu queria. É um perde-perde.


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Quando a gente se prende nessa tentativa de conciliar para facilitar o diálogo, nem percebe que está falando num tatibitate barato, esquecendo que tratar as pessoas como burras não é a melhor estratégia.

Às vezes, quando você trata uma pessoa como burra, ela não acha que você está sendo conciliador. Ela só acha que você pensa que ela é burra mesmo.


É o que eu falo pra quem esconde a homossexualidade de algum parente idoso. Poxa, a pessoa teve 90 anos pra aprender o que é importante na vida, você vai mesmo achar que ela é incapaz de entender que você se apaixonou por alguém do mesmo sexo? Pode ser que ela seja só mau caráter, poxa. Não a subestime.

Quando a gente começa a podar partes nossas pra que o outro nos entenda, a gente perde a parte mais importante de qualquer relação: a autenticidade. Sem ela não há chance alguma de crescimento.


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Por isso, a partir de agora, vou respeitar o pessoal das igrejas sem tentar mudar a opinião de ninguém. Pois que fiquem lá, acreditando no que acreditam, como fazem há trocilhões de anos.

Eu vou defender o que eu acredito ganhando numericamente. Povo pró-ciência, precisamos nos reproduzir!

Vamos encher esse mundo de cientistinhas agnósticos. Vamos popular o país com gente de cabelo rosa e piercing no nariz que faz estudos de gênero.

Pra implantar de vez esse projeto, encerro esse texto convidando todos para uma grande orgia.


Trago detalhes em breve.

Se alguém tiver o Whatsapp do José Loreto, favor me mandar.

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