O refém
Nunca imaginei que fosse capaz disso.
Eu, que sempre valorizei tanto a liberdade, fiz um refém.
Cruelmente o apanhei na rua para prendê-lo, e o mantenho em cativeiro na minha própria casa.
As janelas estão completamente lacradas para impedí-lo de ir embora.
Às vezes, quando eu dou bobeira, ele foge pela porta e corre como um jato, desesperado que está pela chance de uma existência livre.
Não adianta.
Eu o recapturo e o boto de volta pra dentro. Tranco a porta e redobro a atenção.
--
Eu sou um sequestrador sádico.
Minha vítima come e bebe do chão, e também é obrigada a fazer suas necessidades em plena vista. Dignidade nenhuma.
A comida é sempre a mesma. Ele implora para comer aquilo que eu como, mas eu olho firme nos olhos dele e digo "Sua comida tá no chão!". Escorraço ele da cozinha.
Sem contar que eu o chamo de um apelido ridículo. É pra humilhar, mesmo.
--
Não pensem que ele é um refém tranquilo.
Ele luta tudo o que pode.
Pela manhã, enquanto ainda estou dormindo, ele pula no meu rosto numa tentativa óbvia de me sufocar e se livrar do déspota que o oprime.
Não adianta. Eu sou mais forte que ele, e ele logo fica trancado para fora do quarto. Que durma no chão, e não adianta reclamar.
Não duvido que, no dia que ele consiga o que quer, ele devore minha carniça com um sentimento misto de fome e vingança.
Meus braços estão cheios de marcas das mordidas e arranhões que ele me dá. De vez em quando ele me ataca de emboscada, no corredor, sem que eu perceba.
Ele certamente me mataria, se tivesse a chance.
--
Minha motivação é psicopata.
Gosto de ter um ser à disposição para que eu o agarre e abrace e faça do seu corpo o que quiser, no momento em que eu quiser.
Ele resiste aos meus avanços, mas eu sou mais forte. O espremo contra mim até que ele grite de dor e consiga fugir.
Mas quando menos espera, eu o ataco novamente.
Sua vida é pura prisão e submissão.
Meu próximo passo é castrá-lo. Não apenas o privarei de sua liberdade, o privarei de suas bolas.
Quem diria que eu seria tão bom nesse negócio de sadismo.
--
Quer dizer, talvez não tão bom assim.
Estou completamente atarefado e preciso sair agora, mas não consigo.
O único motivo de estar escrevendo esse texto é que o refém está deitado no meu colo e dormindo tão bonitinho que eu não consigo tolerar a possibilidade de me mexer e acabar lhe acordando.
Mesmo um refém desprezado merece um pouquinho de sono tranquilo.
Mas a vida tem seus revezes. Tenho achado até que, quem sabe, o refém dele possa ser eu.
Eu, que sempre valorizei tanto a liberdade, fiz um refém.
Cruelmente o apanhei na rua para prendê-lo, e o mantenho em cativeiro na minha própria casa.
As janelas estão completamente lacradas para impedí-lo de ir embora.
Às vezes, quando eu dou bobeira, ele foge pela porta e corre como um jato, desesperado que está pela chance de uma existência livre.
Não adianta.
Eu o recapturo e o boto de volta pra dentro. Tranco a porta e redobro a atenção.
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Eu sou um sequestrador sádico.
Minha vítima come e bebe do chão, e também é obrigada a fazer suas necessidades em plena vista. Dignidade nenhuma.
A comida é sempre a mesma. Ele implora para comer aquilo que eu como, mas eu olho firme nos olhos dele e digo "Sua comida tá no chão!". Escorraço ele da cozinha.
Sem contar que eu o chamo de um apelido ridículo. É pra humilhar, mesmo.
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Não pensem que ele é um refém tranquilo.
Ele luta tudo o que pode.
Pela manhã, enquanto ainda estou dormindo, ele pula no meu rosto numa tentativa óbvia de me sufocar e se livrar do déspota que o oprime.
Não adianta. Eu sou mais forte que ele, e ele logo fica trancado para fora do quarto. Que durma no chão, e não adianta reclamar.
Não duvido que, no dia que ele consiga o que quer, ele devore minha carniça com um sentimento misto de fome e vingança.
Meus braços estão cheios de marcas das mordidas e arranhões que ele me dá. De vez em quando ele me ataca de emboscada, no corredor, sem que eu perceba.
Ele certamente me mataria, se tivesse a chance.
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Minha motivação é psicopata.
Gosto de ter um ser à disposição para que eu o agarre e abrace e faça do seu corpo o que quiser, no momento em que eu quiser.
Ele resiste aos meus avanços, mas eu sou mais forte. O espremo contra mim até que ele grite de dor e consiga fugir.
Mas quando menos espera, eu o ataco novamente.
Sua vida é pura prisão e submissão.
Meu próximo passo é castrá-lo. Não apenas o privarei de sua liberdade, o privarei de suas bolas.
Quem diria que eu seria tão bom nesse negócio de sadismo.
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Quer dizer, talvez não tão bom assim.
Estou completamente atarefado e preciso sair agora, mas não consigo.
O único motivo de estar escrevendo esse texto é que o refém está deitado no meu colo e dormindo tão bonitinho que eu não consigo tolerar a possibilidade de me mexer e acabar lhe acordando.
Mesmo um refém desprezado merece um pouquinho de sono tranquilo.
Mas a vida tem seus revezes. Tenho achado até que, quem sabe, o refém dele possa ser eu.

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