Não agrade seus pais
É praticamente regra: até os melhores pais trabalham no esquema do amor condicional.
É assim que seres humanos funcionam: eu te amo mais que tudo, mas um pouquinho mais se você fizer o que eu quero.
Alguns pais - talvez inseguros do seu papel, ou na ânsia de ter filhos comportados, corretos e limpinhos - pegam mais pesado nessa hora.
Aí o amor fica bem reguladinho: Eu até te amo, mas só depois da lição feita.
E da louça lavada.
E do quarto limpinho.
E da nota dez.
E de não ficar com raiva nunca.
Amor, amor mesmo, fica lá pelo oitavo lugar na lista de prioridades.
--
E não é que funciona?
Crianças são máquinas de agradar os outros - tipo cachorro - porque a sobrevivência delas depende do ambiente estar em paz.
Por isso, uma mãe insatisfeita gera um desconforto de morte. O que dá pra fazer pra aliviar essa angústia dela, que pra mim é fatal? Como fazer essa pessoa ficar bem e gostar de mim, pra que eu não morra de fome ou indiferença?
É, talvez a restrição de carinho não funcione tanto assim.
--
O duro é a quantidade de adultos que ainda se vêem presos nesse ciclo.
O emprego é escolhido para mostrar responsabilidade, porque os pais não admitiriam um filho irresponsável.
O casamento é escolhido para mostrar respeito às tradições, porque Deus me livre de uma filha que transe antes do casamento.
Aí a história de vida não é mais escrita consigo mesmo em mente, só o outro.
--
É uma pena, porque o aprendizado entre pais e filhos precisa se dar dos dois lados.
Se pais responsáveis dão limites aos filhos durante a infância, filhos responsáveis dão limites aos pais pelo resto da vida.
A rebeldia adolescente é um presente perfeito para pais cheios de expectativa.
É uma oportunidade para que eles se dêem conta de que dá pra amar além do limite. Filhos que decepcionam os pais os ensinam o que é amar de verdade.
--
É agressivo? É. Mas haja agressividade no pintinho pra quebrar o ovo.
É curioso o que acontece quando os filhos conseguem dar esse salto e viver sem precisar corresponder à espera de seus pais.
Em vez de desprezo, recebem um respeito muito adulto. "Ok, meu filho soube dar conta da própria vida. Rompeu comigo e é capaz de viver sem mim."
De quebra, os pais ganham uma lição muito bonita: Não são donos dos caminhos dos seus filhos, e suas certezas conquistadas por toda uma vida não são as únicas.
Vai muita pancada até chegar nesse ponto, mas são pancadas importantes.
Depois das pancadas, a paz: adultos dos dois lados e a sensação de dever cumprido.
--
Posso escrever o quanto for, mas não vou dizer tão bem quanto os Novos Baianos:
"Minha velha é louca por mim só porque eu sou assim
Meu pai, por sua vez, se liga na minha
E nos botecos onde passa não dá outro papo
Eu sou o caso deles
Sou eu que esquento a vida deles
No fundo, no fundo coloco os velhos no mundo
Boto na realidade
Mostro a eternidade
Senão eles pensavam
Que tudo era divino maravilhoso
Levavam tudo na esportiva
Ficavam contando com a sorte
E não se conformariam com a morte"
E tem presente melhor do que a realidade?
É assim que seres humanos funcionam: eu te amo mais que tudo, mas um pouquinho mais se você fizer o que eu quero.
Alguns pais - talvez inseguros do seu papel, ou na ânsia de ter filhos comportados, corretos e limpinhos - pegam mais pesado nessa hora.
Aí o amor fica bem reguladinho: Eu até te amo, mas só depois da lição feita.
E da louça lavada.
E do quarto limpinho.
E da nota dez.
E de não ficar com raiva nunca.
Amor, amor mesmo, fica lá pelo oitavo lugar na lista de prioridades.
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E não é que funciona?
Crianças são máquinas de agradar os outros - tipo cachorro - porque a sobrevivência delas depende do ambiente estar em paz.
Por isso, uma mãe insatisfeita gera um desconforto de morte. O que dá pra fazer pra aliviar essa angústia dela, que pra mim é fatal? Como fazer essa pessoa ficar bem e gostar de mim, pra que eu não morra de fome ou indiferença?
É, talvez a restrição de carinho não funcione tanto assim.
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O duro é a quantidade de adultos que ainda se vêem presos nesse ciclo.
O emprego é escolhido para mostrar responsabilidade, porque os pais não admitiriam um filho irresponsável.
O casamento é escolhido para mostrar respeito às tradições, porque Deus me livre de uma filha que transe antes do casamento.
Aí a história de vida não é mais escrita consigo mesmo em mente, só o outro.
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É uma pena, porque o aprendizado entre pais e filhos precisa se dar dos dois lados.
Se pais responsáveis dão limites aos filhos durante a infância, filhos responsáveis dão limites aos pais pelo resto da vida.
A rebeldia adolescente é um presente perfeito para pais cheios de expectativa.
É uma oportunidade para que eles se dêem conta de que dá pra amar além do limite. Filhos que decepcionam os pais os ensinam o que é amar de verdade.
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É agressivo? É. Mas haja agressividade no pintinho pra quebrar o ovo.
É curioso o que acontece quando os filhos conseguem dar esse salto e viver sem precisar corresponder à espera de seus pais.
Em vez de desprezo, recebem um respeito muito adulto. "Ok, meu filho soube dar conta da própria vida. Rompeu comigo e é capaz de viver sem mim."
De quebra, os pais ganham uma lição muito bonita: Não são donos dos caminhos dos seus filhos, e suas certezas conquistadas por toda uma vida não são as únicas.
Vai muita pancada até chegar nesse ponto, mas são pancadas importantes.
Depois das pancadas, a paz: adultos dos dois lados e a sensação de dever cumprido.
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Posso escrever o quanto for, mas não vou dizer tão bem quanto os Novos Baianos:
"Minha velha é louca por mim só porque eu sou assim
Meu pai, por sua vez, se liga na minha
E nos botecos onde passa não dá outro papo
Eu sou o caso deles
Sou eu que esquento a vida deles
No fundo, no fundo coloco os velhos no mundo
Boto na realidade
Mostro a eternidade
Senão eles pensavam
Que tudo era divino maravilhoso
Levavam tudo na esportiva
Ficavam contando com a sorte
E não se conformariam com a morte"
E tem presente melhor do que a realidade?
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