Aprenda com um barulho desses



Depois de passar um tempo mais recolhido, tomando café sozinho e pensando na vida, voltei a convidar alguns amigos pra compartilharem o café comigo.

A vítima da vez foi um amigo que terminou o mestrado recentemente e já estava engatado num projeto de doutorado, enquanto tentava equilibrar escrever uma porção de artigos com receber um qualquer-coisa por hora numa faculdade particular.

"Eu precisava tomar vergonha na cara e tentar um mestrado também, sabe?", eu falei.

"Pra quê?"

"Ah, acho que as pessoas respeitam mais o que a gente sabe..."

"Mas você tá precisando de mais respeito?"

"Não, na verdade não...", pensei um pouquinho, "mas aprender sempre é bom, né?"

Meu amigo chacoalhou de leve a caneca na mão, remexendo a borra do café no fundo pra ver se enxergava um futuro diferente, e meteu a seguinte:

"Flávio, a coisa que eu menos fiz no meu mestrado foi aprender."

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Compartilho esse diálogo pra me sentir mais confortável com não ir fundo na carreira acadêmica? Sim, um pouquinho.

Mas também porque, francamente, a situação pra quem quer aprender algo tá foda.

Uma outra amiga está sei lá em qual pós-graduação - já foram várias. Mais ou menos a cada ano ela me confessa:

"Ai, eu tô com uma vontade de aprender! Mas assim, quero sentar numa sala de aula, olhar um professor bom falando e só absorver o conhecimento". 

Também gosto muito da ideia de ser como uma plantinha no sol e receber passivamente conteúdos maravilhosos que transformam a nossa vida, mas mesmo isso não parece muito fácil.

Das várias pós- graduações que minha amiga fez, ela disse que teve momentos assim só umas três vezes. Não me parece valer o esforço de passar todo fim de semana numa sala de aula.

Ainda assim, ela está crente que na próxima vai dar boa.

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O conhecimento está em crise. Não sei se tem como o conhecimento não estar em crise, porque eu não conheço o conhecimento tanto assim, mas a sinuca está brava.

Talvez um curso menos formal, que você achou na internet? Você pesquisa um pouco o currículo do professor e ele é formado na Universidade Nazigermânica do Norte da Argentina. Deixa pra lá.

Fazer um caminho independente e só ler uma pilha de livros diferentes, pra tentar angariar o máximo de conhecimento possível? Parece bom, mas quem valida isso? Não dá pra botar "li Melanie Klein e Jorge Amado e achei algo interessante entre os dois" no currículo sem que uma instituição carimbe que você realmente leu aquilo e pôde achar alguma coisa.

Ficar conscientemente longe do desejo de aprender alguma coisa? Não dá. Depois que você tem consciência que não sabe nada, saber nada fica muito desconfortável.

Não tem pra onde fugir. Aprender alguma coisa é intimamente ligado a não ser validado ou a estar sujeito a algum risco. Ainda bem que a curiosidade é potente o suficiente pra nos fazer aguentar esse sufoco.

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Ainda assim, o maior perigo dessa frustração em querer aprender é o de desistir e achar que o próprio conhecimento não tem valor algum. Sempre há algo a somar, sim, mas se você quer tanto aprender... Alguma coisa você deve estar fazendo de certo.

É por isso que vou lançar meu curso APRENDENDO NO TIK TOK, com o módulo especial "Vi num vídeo em que alguém mencionou um estudo". Vamos aprender muito juntos.

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