Presentinho, presentão


Autoestima, lei n.º 1: Todo ser humano merece a chance de se sentir um presentinho.

Uma pessoa aprende a gostar de si mesma quando é amada no momento em que não tem nada a oferecer.


Normalmente acontece quando criança: você chora, faz cocô na calça e, de alguma forma, sabe que isso é chato pra caramba. De algum jeito primitivo, você sabe que seria mais fácil te largar no mato pra virar comida de lobo guará, mas não é isso o que acontece. Alguém te pega no colo, limpa seu bumbum fedorento e fala que você é a coisa mais fofa de meu deusinho.


Você aprende, então, que algum valor intrínseco você deve ter. Uai, se até seu cocô essa pessoa aplaude, você deve ser muito incrível mesmo.

Fica marcado no fundo do peito: Eu sou um presentinho.


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Autoestima, lei n.º2: Nenhuma pessoa deveria se sentir um presentão.


Ouvi outro dia a história de uma moça que ouvia música muito, muito alta, a ponto de incomodar a vizinhança. Seu vizinho, que me contou a história, criou coragem e foi até a casa dela.

Chegando lá, viu que a caixa de som, além de estar no último volume, estava virada para o lado de fora da janela, mandando a música pra a rua em vez de pra dentro da casa. Quando perguntou o porquê disso, a vizinha respondeu:

"Querida, eu estou ajudando os outros! Nem todo mundo tem caixa de som, as pessoas querem ouvir música!"


Olha lá, o presentão. Uma pessoa com a certeza de que todo mundo quer exatamente o mesmo que ela, vivendo a plenitude de pensar que seu gosto é a régua absoluta do bom senso.

Faltou uma medida saudável de reprovação pra essa pessoa baixar a bolinha e aprender que apesar de ela ter algum valor intrínseco, nem tudo o que ela faz é maravilhoso e vai ser aprovado.

Uma pessoa madura sabe que nem tudo o que tem a oferecer é desejável. Negar isso não é ter boa auto estima, é falta de noção.


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Autoestima, lei n.º 3: tudo bem achar que quem sai perdendo é quem não te quer por perto.


Equilibrar-se entre sentir que é um presentinho só por existir e aceitar que nem tudo o que se faz é uma maravilha é um esforço pra toda vida.

Inclusive quando a gente está sozinho. A grande (e difícil) sacada é saber reconhecer o próprio valor mesmo quando a gente sabe que não está no momento mais admirável da própria existência.

Saber que nosso cocô também fede mas que a gente também tem alguma graça, encontrar a própria turma, onde se é bem quisto mesmo não sendo o ideal de flor que se cheire.


Mesmo sem ilusões de perfeição, melhor ficar onde se é bem vindo.

O presente é seu e você dá pra quem quiser. 

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