Águias Possíveis
Você já deve ter lido essa história em algum lugar, e ela é mais ou menos assim:
A águia, por viver até setenta anos, precisa tomar uma decisão difícil quando chega aos quarenta: Com o bico curvado, as penas pesadas e unhas inflexíveis, ela precisa fazer um retiro de três meses. Nesse tempo, ela bate com o bico na pedra até arrancá-lo totalmente. Depois, arranca as próprias penas e mutila as próprias garras. Depois de todo esse sofrimento, o bico, as penas e as garras renascem mais fortes, e ela pode viver o resto da vida com segurança.
Talvez até tenha achado bonita, repassado para os colegas, se inspirado nela para tomar uma decisão difícil. O problema dessa história é que ela é completamente mentirosa. Nenhuma águia conseguiria sobreviver por tanto tempo vulnerável assim, sem bico, penas e unhas.
Se uma águia fizer uma coisa dessas, pode ligar pro CVV. A coitadinha é suicida: mesmo quando mais velha, ela depende de tudo isso para estar protegida e viver.
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Tá certo que é só uma história motivacional, construída para ficar bonita num mural de escritório, com a imagem de uma águia imponente feita no powerpoint ao lado. Mas vale uma reflexão mais profunda:
Será que o único jeito de sobrevivermos à passagem do tempo é arrancando de nós mesmos aquilo de que dependemos para viver?
A reflexão da águia que abre mão de tudo para nascer de novo espelha bem o que a sociedade espera de uma pessoa de meia-idade hoje em dia.
Primeiro porque a média de expectativa de vida das águias é de trinta anos. Quem passa pelos quarenta e sofre com decisões pesadas somos nós, os macaquinhos pelados que estudaram bastante e batem ponto em uma empresa em vez de na floresta.
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É isso que se precisa questionar: na sociedade em que tudo precisa ser novo para ter valor, o que fazer quando nos sentimos desatualizados?
A ideia subliminar na história da águia é essa: Abra mão de tudo. Jogue tudo o que você tem fora! Arranque suas garras, jogue fora esse seu bico. Seja novo!
Leia-se: “Não valorize tanto a sua experiência! Jogue tudo para o alto! Esqueça desse emprego! Jogue fora seu casamento, arranje uma namorada de 19 anos e compre uma Harley Davidson! Isso vai te fazer viver de verdade!”
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E o que fazer com o que você foi antes?
Não acredito que jogar fora tudo aquilo que nos protege seja uma boa ideia. Com a nossa história jogada fora, ficamos tão vulneráveis quanto uma águia pelada e sem bico na vida selvagem.
Aliás, a águia de verdade tem um bico que nunca para de crescer. Ela pode até raspar o bico contra uma pedra, por exemplo, mas é para deixá-lo cada vez mais afiado.
A natureza é mais sábia que uma corrente de emails: se você crescer constantemente, e se expôr ao risco com frequência, não vai precisar de uma crise tão grande no meio da vida para se reinventar completamente.
Assim como as águias, uma pessoa que ganha experiência pode ser mais forte, se permitir-se crescer constantemente. É possível tornar-se mais forte e reinventar-se sem se violentar.
Tenho certeza que uma águia experiente é melhor de caça do que uma com tudo novo. Deve ser até mais charmosa na hora de voar.
Por falar nisso, a águia símbolo dos Estados Unidos não é careca e com a cabeça branca?
Quem sabe isso também tenha algo de simbólico…
A águia, por viver até setenta anos, precisa tomar uma decisão difícil quando chega aos quarenta: Com o bico curvado, as penas pesadas e unhas inflexíveis, ela precisa fazer um retiro de três meses. Nesse tempo, ela bate com o bico na pedra até arrancá-lo totalmente. Depois, arranca as próprias penas e mutila as próprias garras. Depois de todo esse sofrimento, o bico, as penas e as garras renascem mais fortes, e ela pode viver o resto da vida com segurança.
Talvez até tenha achado bonita, repassado para os colegas, se inspirado nela para tomar uma decisão difícil. O problema dessa história é que ela é completamente mentirosa. Nenhuma águia conseguiria sobreviver por tanto tempo vulnerável assim, sem bico, penas e unhas.
Se uma águia fizer uma coisa dessas, pode ligar pro CVV. A coitadinha é suicida: mesmo quando mais velha, ela depende de tudo isso para estar protegida e viver.
- Vou me atirar nessa torre!
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Tá certo que é só uma história motivacional, construída para ficar bonita num mural de escritório, com a imagem de uma águia imponente feita no powerpoint ao lado. Mas vale uma reflexão mais profunda:
Será que o único jeito de sobrevivermos à passagem do tempo é arrancando de nós mesmos aquilo de que dependemos para viver?
A reflexão da águia que abre mão de tudo para nascer de novo espelha bem o que a sociedade espera de uma pessoa de meia-idade hoje em dia.
Primeiro porque a média de expectativa de vida das águias é de trinta anos. Quem passa pelos quarenta e sofre com decisões pesadas somos nós, os macaquinhos pelados que estudaram bastante e batem ponto em uma empresa em vez de na floresta.
- Tá me tirando?
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É isso que se precisa questionar: na sociedade em que tudo precisa ser novo para ter valor, o que fazer quando nos sentimos desatualizados?
A ideia subliminar na história da águia é essa: Abra mão de tudo. Jogue tudo o que você tem fora! Arranque suas garras, jogue fora esse seu bico. Seja novo!
Leia-se: “Não valorize tanto a sua experiência! Jogue tudo para o alto! Esqueça desse emprego! Jogue fora seu casamento, arranje uma namorada de 19 anos e compre uma Harley Davidson! Isso vai te fazer viver de verdade!”
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E o que fazer com o que você foi antes?
Não acredito que jogar fora tudo aquilo que nos protege seja uma boa ideia. Com a nossa história jogada fora, ficamos tão vulneráveis quanto uma águia pelada e sem bico na vida selvagem.
Aliás, a águia de verdade tem um bico que nunca para de crescer. Ela pode até raspar o bico contra uma pedra, por exemplo, mas é para deixá-lo cada vez mais afiado.
A natureza é mais sábia que uma corrente de emails: se você crescer constantemente, e se expôr ao risco com frequência, não vai precisar de uma crise tão grande no meio da vida para se reinventar completamente.
- Tô de boa, então?
--Assim como as águias, uma pessoa que ganha experiência pode ser mais forte, se permitir-se crescer constantemente. É possível tornar-se mais forte e reinventar-se sem se violentar.
Tenho certeza que uma águia experiente é melhor de caça do que uma com tudo novo. Deve ser até mais charmosa na hora de voar.
Por falar nisso, a águia símbolo dos Estados Unidos não é careca e com a cabeça branca?
Quem sabe isso também tenha algo de simbólico…



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